Flávio Gonçalves

Desenhos de Eny Schuch

A utilização do desenho por parte de escultores como apoio na elaboraçãoo de suas esculturas é bastante comum; mesmo a utilização da gravura. Na maioria dos casos os estudos não são levados à público, pois fazem parte da “cozinha” de atelier. O desenho nesse caso é tido como projeto, visando a uma concreção posterior e, por isso mesmo, ele é criteriosamente corrigido, reformulado em função da etapa final do processo que é a escultura em si.

Os desenhos que Eny Schuch apresenta nesta exposição são autônomos e representam o universo das formas que a escultora utiliza em seus trabalhos tridimensionais, mas sem a característica de projeto. Contudo eles possuem peculiaridades no uso dos materiais tradicionais do desenho que deixam transparecer a ação da escultora por trás dos desenhos.

O conjunto de procedimentos utilizados na construção de um trabalho determina suas características particulares. Riscar, contornar, manchar, apagar são alguns procedimentos comuns ao desenhista na construção de uma imagem. Os procedimentos utilizados por Eny Schuch na construção de seus desenhos são em parte os de um escultor: raspar, cavar, modelar. Porém o material e a forma de  apresentação está intimamente ligado ao desenho. Podemos obsevar nessa “impureza” ou caráter híbrido de procedimentos, a singularidade de suas imagens. O sentido narrativo e ilusório dos desenhos tradicionais é justaposto ao caráter construtivo da escultura.

Eny explica o uso do desenho pela facilidade de acesso aos seus materiais, e o utiliza como anotações, por assim dizer, que necessitam um olhar próximo e privativo. A pequena dimensão dessas anotações é o convite para esse olhar íntimo que procura o reconhecimento, o desvendamento do sentido dessas formas que lembram sistemas, amebas. A curiosidade é uma porta aberta para a imaginação e uma cortesia da artista.

 

(Desenhos/ Galeria de Arte de Joinvile/SC, maio de 1995)

Flávio Gonçalves

Artista e Professor do Instituto de Artes/ UFRGS

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